Matéria por Aldo Brugnera Junior - Professor visitante e pesquisador colaborador – Instituto de Física de São Carlos/USP; Doutor em clínica odontológica – UFRJ; Professor emérito – Unicastelo, Pioneiro em Laserterapia no Brasil e Referência Mundial em Inovação.
Como é de amplo conhecimento, um novo tipo de pneumonia atraiu a atenção do mundo desde dezembro de 2019, a coronavirus disease 19, ou Covid-19, cuja origem foi identificada pela infecção provocada pelo vírus SARS-CoV-2. Seus sintomas mais comuns são: febre, tosse seca e dificuldade para respirar, seguido por manifestações menos comuns, como diarreia, náuseas, vômito e desconforto abdominal. A infecção pode levar à insuficiência respiratória, devido à lesão pulmonar, até a morte. Problemas cardíacos e endocrinológicos são considerados fatores etiológicos agravantes ou de risco.
O estudo de Zhou et al 2020 indicou que o receptor para a Covid-19 é o mesmo que para o SARS-CoV, a enzima conversora de angiotensina 1 (ACE2). Essa enzima conversora tem um papel fundamental na porta de entrada celular, possibilitando ao vírus sua primeira linha de adesão para crescimento e infecção no corpo humano. As rotas de infecção e patogenicidade da Covid-19 não são totalmente compreendidas, por isso o estudo e avaliação dos locais que têm o ACE2 podem ser de grande valia para a prevenção e tratamento da doença.
Um recente estudo publicado no International Journal of Oral Science (XU et al 2020) relata que uma alta expressão de ACE2 foi identificada nas amostras em pulmões, no mesmo desvio padrão médio no dorso da língua e nos tecidos orais e gengivais, evidenciando que a cavidade oral é uma rota de alto risco para a entrada, multiplicação e patogenicidade da
infecção pela Covid-19. O estudo evidenciou que o vírus se espalha pelo corpo humano atingindo outras áreas, tais como pulmões, fígado, intestino, sistema cardiovascular e urinário, atuando também na próstata.
Como o controle da saúde bucal pode ajudar? Como o vírus tem aderência nas células epiteliais das mucosas orais, podemos considerar que uma das maneiras para prevenção é estimular o paciente a manter uma cavidade oral em equilíbrio, sem biofilme formado, com sua capacidade tampão e fluxo de secreção salivar regular, criando dificuldades naturais para adesão do vírus ao seu receptor específico ACE2. Entretanto, se a saúde bucal estiver comprometida, o vírus encontra um meio fértil para adesão, entrada e disseminação.
Os relatórios do Ministério da Saúde evidenciam que a Covid-19 no Brasil está atingindo faixas etárias mais baixas do que na China e no continente europeu. Os fatores podem estar relacionados ao uso precoce de medicamentos que diminuem a secreção salivar, como os ansiolíticos - medicação para emagrecimento e diabetes –, sendo a automedicação feita por essa população mais jovem. Nos idosos e nos pacientes submetidos à radioterapia e quimioterapia, ocorre uma diminuição no fluxo salivar, que aumenta o acúmulo de bactérias no tecido lingual, podendo chegar a ter fissuras nas suas microvilosidades e diminuindo as imunoglobulinas defensoras de bactérias e vírus.
De acordo com os conceitos atuais de saúde oral integrada à saúde geral, a cavidade bucal pode ser uma importante linha de defesa e prevenção contra a Covid-19. Medidas simples, como bochechos e gargarejos com água oxigenada 10 volumes diluída em água, alteram o PH e podem diminuir a aderência do vírus. Além de todos os protocolos médicos divulgados no controle da pandemia de Covid-19, os cuidados individuais básicos de higiene oral, como escovação da língua, tratamento das doenças dos tecidos gengivais, cáries e erosões dentárias, promovem a manutenção da saúde geral.
Em nosso editorial recém-publicado na revista Photobiomodulation, Photomedicine and Laser Surgery (PPMLS), ressaltamos que sistemas de radiação ultravioleta C (UVC) são um novo aliado para a descontaminação de superfícies e do ar. Fomos enfáticos ao afirmar que essa tecnologia veio para ficar e deve ser incorporada como um novo arsenal no combate aos vírus, bactérias e fungos.
Contaminação pelo ar
Recentemente, a mídia divulgou que a OMS recebeu uma carta aberta assinada por 239 pesquisadores do mundo para que a entidade se pronunciasse a respeito da transmissão da Covid-19 pelo ar. Isso nos fez repensar os conceitos de biossegurança para a nossa clínica odontológica e dos demais cirurgiões-dentistas. Por isso, além de todo o aparato de EPIs e protocolos de segurança, acrescentamos um sistema de descontaminação do ar por equipamentos de luz ultravioleta (UV), além de um sistema para descontaminação de superfície, também com luz UV.
Venho acompanhando as pesquisas sobre luz UV nos últimos cinco anos, tanto no Brasil como no exterior, e tenho convicção de que tais equipamentos podem oferecer uma solução mais efetiva e com menor custo.
Para purificação do ar, utilizamos o equipamento de luz UV fabricado pela Solidsteel, enquanto para descontaminação de superfícies, utilizamos outro equipamento. As pesquisas têm evidenciado que 99,99% do ambiente fica livre de microrganismos com esse método. É claro que não adianta comprar uma lâmpada mágica de UV de qualquer país e tentar usar. Não vai dar certo e você vai expor sua saúde a danos severos. Encontrei equipamentos que, além da luz UV, emitiam ozônio no ar, o que pode causar irritação nos olhos e outros tecidos. Mas, fica a recomendação: faça sua escolha tendo a certeza de que o equipamento seja de um fabricante conhecido e conceituado.
É muito importante que a sociedade entenda que o cirurgião-dentista tem um papel fundamental na prevenção da disseminação da Covid-19 e que, infelizmente, o mundo não valorizou esse trabalho. Ressalto que, como o coronavírus tem aderência nas células epiteliais das mucosas orais, podemos considerar que uma das principais maneiras de prevenção é estimular o paciente a manter uma cavidade oral em equilíbrio, sem biofilme formado, com sua capacidade tampão e fluxo de secreção salivar regular, criando dificuldades naturais para adesão do vírus ao seu receptor específico ACE2.
Entretanto, se a saúde bucal estiver comprometida, o vírus encontra um meio fértil para adesão, entrada e disseminação. Entre as especialidades da Saúde, somos a que mais se preocupa com a biossegurança. Em março, no início da pandemia no Brasil, as pesquisas indicavam que nossa profissão estaria entre as mais suscetíveis à contaminação e que a maioria dos cirurgiões-dentistas seria contaminada devido aos aerossóis da cavidade bucal. Buscamos soluções, fomos criativos e inteligentes, e hoje somos os profissionais de Saúde com menor número de contaminados.
Em nosso ambiente de trabalho, posso afirmar que o uso dos sistemas UV-C está entre as soluções com melhores resultados para descontaminação de superfícies e do ar. Se tivéssemos uma tecnologia melhor, todos estariam usando.
Agradecimentos à Sonia Groisman, Fatima Zanin e Samir Nammour, pela ajuda na elaboração deste texto.
Leia a revista completa clicando no link abaixo:
Referências:
Brugnera Junior A, Zanin F, Nammour S, Groisman S. Biophotonics in health care and its relevance in fighting the Corona Virus Disease (COVID 19). Photomed Laser Surg 2020.
Brugnera Junior A, Bagnato VS. Biophotonics and the life sciences. Photomed Laser Surg 2015;33(11):531-2.
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